certeza

..por
.       que
.no fim
.            das contas
.
.enquanto não tá
.         sendo
.é que não
.        é
.          pra ser
.
.  a gente
.                nem
.vai saber
.   quanto
.          de tempo
.                                 que há
.         pra vir a ser
.
.                   nem de que
.         modo ser                 á
.
.e quando é
.             é certo
.                  e tátil
.         que está
.                         sendo,
.                         sempre fora
.           pra ter sido
.
.                               e é claro
.            que sabíamos
.                           desde
.             o princípio

o menino

ao Theo

viro para o céu e olho na cara
Caetano Veloso

., cê tem que
.                      conhecer
.não tem tamanho
.                   o tanto
.             que ele é
.                 no mundo
.
.                     ah é?
.                     muito.
.
.o que ele faz?
.faz maravilhas!

e

– (…) como as ilhas: sempre longe, mas ofuscando todo mar em redor
Mia Couto

.                            finalmente.

.se puseram
.               – desabadas
.                  de caminho –
.em movimento,
.
.ao lado uma
.                          da outra,
.
.nossas almas

pois

todos os dias nascem
deuses
alguns maiores
e outros
menores do que você
Du Peixe

.me acostumo às dúvidas
.                       vivo
..                de bico
.             sem trabalho
.                        fixo
.
.as ideias permanecem
.úmidas ao sol
.
. a tristeza
.            e a felicidade
.              são
.   só meras
.    iminên
.              cias
.
.da próxima
. mudança
.              de humor
.     após a
.       póstuma,
.                       amor

sol

– não sei vocês,
porque cada um tem seu destino,
mas eu que sou pobre e sou fraco
não consegui viver em são-paulo.
Antônio Estrela
(contador de vida e morador de Ribeirão de Areia)

num dia quente
desse inverno

sobrevivendo
sem descanso
na cidade
à revelia

dou graças
(coagido)
à sombra
que os prédios
.             simulam
impunes

.                  e dela
.                            me desvio
(de olhos semiabertos)

saudade

Não há na violência
que a linguagem imita
algo da violência
propriamente dita?
Cacaso

encontramo
.                       -nos
.                    a sós
num dia
depois da manhã
da tarde e da noite
em opostos
telefones

as horas
que somem
(as semanas)
servem de alimento
à datação
dos amores
à idade
dos elefantes
aos mecanismos

e nesse
contexto
cometeria
mesmo
a linguagem
a ousadia
ou engano
de dizer
a palavra
a ser dita?

enarmonia

(para ser lido a duas vozes)

e no entanto
parecemo-nos
como se parecem
o açúcar e o sal
A. Martins Marques

:
– a natureza
de querer ter
sido
astronauta

:
– de atravessar
toda a terra
num mergulho
até
a ala dos raios

:
– amarro
meus olhos
à ponta de
teus dedos,
modos

:
– escancaro
meus acessos,
medos:
liberto os animais
arredios
.               que tanto já
te reconhecem

:
– atiras a flecha
marcada, gasta
de todo chão que tatuas
com ela,
tuas raízes elétricas
.                                      e ventanias

:
– perecível
como qualquer
.                                             rei
teu voo é como o meu
e o pouso é
.                                             dono do
.                                                              descanso

:
– danças na lama-anciã
enquanto
planto o alimento
de seus escorpiões
como mãe

:
– danças e afinas
teu passo num espelho
(um rio teso em aquário)
enquanto afio
teus gumes inexatos
.                                        como se pai
.                                (saturno)

:
– canto
o céu de Ícaro –
só percurso
de sol

:
– canto
a lua da maria dos rios e ventres
vênus
gestando os dias
de sol

(acorde)